II – Domingo da Páscoa
06-04-2024Vitae Informação | Edição 150
06-04-2024Para a grande maioria dos cristãos de hoje, o Domingo é um dia como outro qualquer, a não ser pelo facto de não se trabalhar (não o é para todos).
Como já o sabeis, a palavra Domingo significa “dia do Senhor”. Assim, desde os primeiros séculos se começou a designar o dia seguinte ao do sábado, não só porque nesse dia Jesus ressuscitou e foi constituído Senhor, mas também porque os cristãos por esse mesmo motivo deveriam juntar-se para celebrar a Eucaristia e de uma forma ritual encontrar-se com Jesus ressuscitado.
Será bom lembrar que já nos anos 50, como o comprovam os Actos dos Apóstolos e a 1ª Cor., os cristãos tinham o hábito de se reunirem em assembleia para celebrar a Eucaristia no primeiro dia da semana. O encontro de Jesus com os discípulos de Emaús mostra-nos como se processava esse encontro: com a liturgia da palavra e com a liturgia eucarística, prolongando assim as aparições de Jesus aos discípulos, em dia de Páscoa. Ainda hoje, esta é que é a verdadeira razão, e não outra, para estarmos juntos com Jesus.
Sobre este assunto eu podia apresentar uma série de documentos, dos primeiros tempos mas apenas vou citar um documento de São Justino (cerca do ano 110): “No dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e ali se leem, enquanto o tempo o permite, as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas. Sem demora, quando o leitor termina, aquele que preside à palavra faz uma exortação e convite a que imitemos estes bons exemplos.
Seguidamente, levantamo-nos todos à uma e levamos as nossas preces e, terminadas estas, como já dissemos, oferece-se pão, vinho e água, e o presidente, conforme as suas forças, faz igualmente subir a Deus as suas preces e acções de graças, e todo o povo exclama dizendo “Amen”. Neste momento vem a distribuição e participação, que se faz a cada um, dos alimentos consagrados pela acção de graças e o seu envio por meio dos diáconos, aos ausentes.
Os que têm e querem, cada um segundo a sua livre decisão, dá o que bem lhe parece, e o recolhido entrega-se ao presidente, com o que ele socorre órfãos e viúvas, aqueles que por enfermidade ou por outra causa estão necessitados.
Celebramos esta reunião geral no dia do sol, por ser o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador ressuscitou de entre os mortos.”
Escrevendo ao imperador, e usando expressões que lhe fossem mais compreensíveis, S. Justino fala-lhe do que fazem os cristãos na assembleia dominical. Quanto ao lugar onde se realizava, poderemos depreender que fosse em casas particulares, porque as perseguições não permitiam as igrejas. Como se verifica, já nessa altura a liturgia da palavra era fortemente influenciada pela liturgia da sinagoga judaica, mantendo-se a leitura dos profetas e substituindo a leitura da Lei pelo Evangelho – (memória dos apóstolos).
Quanto à hora do dia, depreende-se que fosse na manhã de domingo, antes do amanhecer e dos discípulos irem para o trabalho. A oração eucarística, embora já se fizesse segundo alguns esquemas, não impedia que o presidente improvisasse, dando-lhe um cunho mais pessoal e terminava com um estrondoso Ámen, que unia o Céu à terra.
Apresentando o baptismo como “o fabricar de cristãos”, S. Justino encara o encontro dominical como um recordar disso mesmo e um fortalecer dos laços vertebradores da condição cristã. Quem dera que este espírito fosse o de hoje…