XXIII – Domingo do Tempo Comum
08-09-2024XXIV – Domingo do Tempo Comum
14-09-2024Várias vezes tenho ouvido quem vá para a TV falar dos pobres, do alto índice de pobreza, que existe no nosso país. Segundo as técnicas da sociologia, a partir da altura em que uma pessoa não tenha mais que X ou Y, como rendimento mensal, considera-se pobre.
Assim sendo, podemos chegar à conclusão de que no nosso país há muitos pobres. Eu não nego esta realidade, que infelizmente nos últimos anos tem vindo a acentuar-se, porque o remedeio de muitos, pouco a pouco, de uma forma ou de outra, foi-se canalizando para um Estado monstruoso e irresponsável, e porque uns tantos souberam e sabem canalizar os bens dos mais fracos, como os mineiros a um curso de água.
Mas isto da pobreza é tudo muito relativo, a ponto de ouvirmos, por vezes, pessoas a comentarem de quem recebe esta ou aquela ajuda da Conferência Vicentina: “Eu também sou pobre. A mim nunca me dão nada.”
Se há quem por isto ou aquilo se reconhece pobre, que se dirá da miséria indiscutível, que encontramos neste ou naquele sector da humanidade? Face a estas pessoas, dizermo-nos pobres é uma ofensa à pobreza.
Por isso, neste assunto tão complexo, há vários tipos de pobreza. Normalmente, considera-se pobre o que não tem meios materiais. Mas há outros pobres: os que não contam para nada aquando das decisões sobre a vida social, os que estão verdadeiramente dependentes dos outros, os que são tratados como massa deitada para o lado, os que não têm quem olhe para eles, os que parecem destituídos de dignidade, incapazes de andar de pé e ver o seu rosto banhado pelo sol.
Estes pobres são os que na Sagrada Escritura aparecem como os preferidos de Deus: – os que não têm quem os defenda, quem os respeite, quem os reabilite e faça andar de pé. Estes pobres são bem-aventurados, porque estando abandonados, sendo esquecidos, desprezados, têm a promessa de que Deus está do lado deles, porque Ele é o Deus libertador. A respeito desta atitude de Deus disse nossa Senhora: “A minha alma louva o Senhor, que manda os ricos de mãos vazias e enche os pobres de bens”.
Pobres são também os que, possuindo bens não se tornaram escravizados por eles. Aproveitam-se dos bens, sem deles serem escravos. Esta pobreza resultante do domínio interior, do senhorio do coração sobre os bens materiais e da consciente dependência de Deus em quem põem o sucesso, o êxito da sua vida, facilita a vida do espírito, mas não a produz automaticamente.
Há uma outra pobreza que domina entre os países mais ricos, a que acontece em pessoas que tendo dinheiro, possuem mentes e corações vazios, surdos a tudo que não sejam negócios, bens de consumo, de lazer e oportunidades de sucesso. Por mais que alguém lhes queira mostrar o vazio, a mentira deste estilo de vida, será um esforço inútil. E este tipo de homem, surdo aos valores do evangelho, comum nos nossos dias e em determinados meios, que eu considero como representado pelo surdo-mudo do evangelho de hoje.
A cena passa por toda uma experiência de solidão e, sobretudo, pela confiança no poder das mãos de Jesus, da sua saliva fruto das suas entranhas.
2 Comments
Concordo plenamente com este assunto. Parabéns pela reflexão!😘
Agradecemos o seu comentário à nossa reflexão.