
Sexta feira Santa – Paixão do Senhor
21-04-2025
Testamento do Santo Padre Francisco
22-04-2025Morreu o Papa Francisco, talvez a pessoa mais marcante e a voz mais escutada nos dias de hoje, a ponto de haver destacados líderes mundiais, que não sendo católicos, estavam profundamente interessados em saber o que ele pensava. Foi um grande sucessor de Pedro, na linha dos grandes Papas que, neste último século, serviram e dignificaram a Igreja.
Há quem recorra a símbolos, mas ele era um símbolo para nós, na medida em que, para além da força desconcertante das suas palavras, tinha atitudes e modo de viver que transmitiam um forte impacto e uma grande mensagem. Por isso, a sua postura não era apenas marcada pela lógica do seu pensamento, mas pela autenticidade e novidade dos seus gestos.
Quem não se lembra da forma como apareceu em público, dizendo que vinha do outro lado do mundo, e pedindo que o abençoasse, que rezassem por ele? Quem não reparou no alcance profético da sua decisão em rejeitar o palácio do Vaticano e o seu isolamento para viver numa casa ao lado, com outras pessoas com que contactava e falava todos os dias, ultrapassando barreiras e protocolos? …
De facto, se o seu antecessor Bento XVI se caraterizava pela profundidade e clarividência de pensamento, este apresentava a forma diáfana e desconcertante dos seus gesto.
Neste sentido, recordo que, pouco depois de ser eleito, ao aperceber-se dos tempos tempestuosos que a Igreja iria enfrentar, inclusive, pelos “abusos”, lembro que um dia e hora anteriormente marcada, as câmaras de televisão seguiram-no sozinho, envolvido por uma certa penumbra, com passo pesado como que a subir um calvário. Era um pastor que carregava as ovelhas feridas do seu rebanho. Como este, muitos outros gestos falaram e interrogaram o mundo. Para ele a humanidade e o humanismo eram a sua grande preocupação. Destaco de entre as várias encíclicas a “Laudato Si”, em que na linha de S. Francisco de Assis apela aos homens para combaterem o consumismo, o desperdício e os estragos de que a “mãe terra” hoje é vítima, para a degradação global dos recursos e do ambiente da casa comum em que vivermos. Outra foi “Evangeli Gaudium”, com ricas e oportunas orientações para os que têm a missão de evangelizar o mundo de hoje. Finalmente, refiro a “Fratelli Tutti”, que indica a fraternidade e a amizade social como caminho para construir um mundo melhor.
Como tenho de me conter, chamo ainda a vossa atenção para as grandes medidas que ele tomou para dentro da Igreja: – a reforma da cúria romana, ainda em curso, o acolhimento dos marginados, a dignificação da mulher, a sinodalidade pastoral, pela qual padres e leigos se devem entreajudar numa mesma e única missão, o diálogo inter-religioso, a preocupação angustiante vivida pelos divorciados, bem como os mais pobres do mundo, os doentes e os presos. Enfim… Um pontificado cheio de frutos do Espírito, que continua a enriquecer e a dignificar a Igreja, que não é feita de anjos mas de homens débeis.
Obrigado, Papa Francisco. Acredito que com ele a Igreja ficou mais fiel, profética e de portas mais abertas ao mundo. O que há-de vir será diferente, completando o difícil legado que o Papa Francisco lhe deixou.
Pe. Orlando Santos