
XII – Domingo do Tempo Comum
21-06-2025Ao longo da minha vida, conheci alguns livros de autores mais ou menos famosos sobre a “vida de Cristo”. Curiosamente, não foram muitos e hoje, praticamente, ninguém se entrega a um trabalho desse género, porque descabido. Sim, descabido, porque só se conta a história de quem já pertence ao passado, e Cristo não é pertença do passado, mas sempre do presente. Daí que nós possamos concluir que, nomeadamente, os Evangelhos, longe de serem “histórias de Jesus”, são propriamente testemunhos, pregações e não relatos científicos.
Se hoje há alguém que escreva uma história de Jesus será para nos falar de quem é Cristo para si. Jesus é como um cristal com inúmeras faces para ser abarcado por quem quer que seja, ao longo da história. E quando alguém se debruça a contar a “vida de Cristo” é como quem analisa um enorme mosaico através da lente de um microscópio. É impossível fazê-lo.
Com mais verdade alguém poderá falar da forma como, no seu entender, a geração do seu tempo encara e vive a pessoa de Jesus, acrescentando uma perspectiva a outras que já conhecemos, restando sempre a cada geração a insatisfação das suas pesquisas e vivências.
Seria para mim muito interessante e enriquecedor apresentar-vos uma resenha do que as muitas gerações destes vinte e um séculos disseram de Jesus, continuando a responder à pergunta feita a Pedro “Quem dizeis vós que Eu sou?”.
Conheci “o Cristo revolucionário” de tantos jovens americanos (e não só), que nas ruas apareciam vestidos com túnicas marcadas pela cruz, capazes de irem às esquadras da polícia gritar: “Polícias, Jesus ama-vos, nós vos amamos”. Depois de tudo isto o que veio foi a droga que os descaraterizou e destruiu, a ponto de Robert Kennedy dizer que “os jovens da sua geração sabem tudo, menos o essencial”.
Lembro-me de como foi tão cativante em filme e em teatro a peça “Jesus superstar” dos hippies, que deram assim de Cristo uma imagem alegre, empática, que de uma forma geral, os cristão tinham perdido.
Lembro-me de outra faceta – a do Cristo guerrilheiro, dramático, apresentado pela “teologia da libertação”, na América Latina e a “dos cristãos para – o socialismo” (marxista), que apareceram entre nós. Eram duas meias verdades, duas imagens que alimentaram a vida de muitos dos nossos atuais dirigentes.
Hoje, que imagem damos de Cristo? Talvez, a de quem é “aborrecido” (“vamos falar de outra coisa…”), a de quem se pode dispensar (“não tenho tempo, já fui a muitas missas”), a de quem já nos esquecemos porque pensamos que temos fé nEle (“eu não vou à Igreja, mas sou muito crente”)…
Podemos dizer que a imagem que os cristãos dão de Cristo, como se verifica, é a de um enorme mosaico, em que cada geração deixa uma pedrinha. Que cor e que imagem damos e queremos dar dEle? Uma coisa é certa: – só do outro lado conheceremos o seu verdadeiro rosto.