
XVI – Domingo do Tempo Comum
18-07-2025Um dia, a passagem de Jesus pelos amigos de Betânia deu azo a que Maria ficasse aos pés de Jesus, a ouvi-lO, enquanto Marta continuava atarefada com as muitas coisas que tinha para fazer, inclusive, em favor do amigo de Nazaré.
Desde muito cedo, encontrei quem entendesse este relato como o suporte para destacar o conflito entre estas duas atitudes: – a acção e a contemplação, tantas vezes expresso por pessoas que pensam e dizem coisas como esta: “Mas que estão as freiras a fazer dentro dos conventos?! A rezar? O melhor seria virem cá para fora, não falta que fazer…”
Realmente, se na idade média encontramos a tendência para a contemplação, para o culto da espiritualidade, nos nossos dias, o que mais se admira é fazer coisas, deixar obra, dar nas vistas, aos olhos do povo. Inclusive, os padres mais conhecidos e com mais prestígio social são, normalmente, os “edificantes”, os que erguem paredes, os que constroem casas para esta ou aquela valência.
Outros haverá que, no silêncio, ajudam pessoas a crescerem por dentro, a encherem as suas vidas de substracto, porque repassadas pelo Espírito de Deus. Mas, na melhor das hipóteses, isso só dará para que mereçam o comentário: “É muito boa pessoa”.
Para ser bem entendido, o relato do Evangelho de hoje não pode ser aproveitado para justificar a falsa divisão entre acção e contemplação. Como disse, nos nossos dias há muitos que parecem formatados para agir, para fazer tudo o que está para fazer, razão porque não têm tempo para rezar, para estarem com Deus e escutarem a sua palavra, deixando-se penetrar pela sua novidade. Actuam, mas não oram. Outros oram mas não actuam, certamente por não orarem bem.
Por isso, importa entender devidamente a lição das palavras de Jesus: que reconheçamos o que é importante e mais importante. Que o mais importante é escutar a palavra de Deus e pô-la em prática. Por isso, para Jesus as duas coisas – oração e acção tornam-se indispensáveis.
Aqueles que querem fazer o muito que falta devem lembrar-se que fica muito mais para fazer, que a sua vida esgotante pode comparar-se a uma autoestrada que começa no berço e acaba na tumba, vivendo uma vida em que se tinha tanto para fazer coisas boas, mas sem haver tempo para ser bom.
Ora, o mais importante é “ser-se bom”, porque sendo bons, isto é, transformados, enriquecidos pelo Espírito de Deus, necessariamente, o bem brotará das nossas mãos. Por isso, o mais necessário e mais difícil é ser-se Marta e Maria, ao mesmo tempo, para não se cair no perigo para que alertava o sábio e saudoso Paulo VI, que dizia: “O homem moderno saiu de casa, perdeu a chaves, e agora não sabe como regressar à sua interioridade”.
Esta é a razão da muita superficialidade, dos muitos desequilíbrios, da muita pobreza moral e física, que todos os dias enchem os nossos jornais e os écrans da TV. O maior deficit não é de caracter financeiro mas espiritual, bem expresso em tantas pessoas que sistematicamente dizem não terem tempo para o Senhor do tempo.
Face a isto importa lembrar que de há muitos séculos atrás, na busca da felicidade e do equilíbrio interior, os beneditinos caracterizam a sua vida por este tão célebre ideal: “Reza e trabalha”.