
XVII – Domingo do Tempo Comum
26-07-2025
Peregrinação Diocesana a Fátima
26-07-2025A medida de Deus
«Tão-pouco destruirei em atenção a estes dez»
A Bíblia tem diálogos verdadeiramente deslumbrantes. Por vezes, procura-se no Livro Sagrado mais dogmas que sentimentos. E a Bíblia é uma espécie de diário íntimo da relação de Deus com a Humanidade. Só perceberemos a sua riqueza se formos serenamente e com humildade à procura do coração de Deus.
Das figuras que atravessam a Bíblia, Abraão, além de essencial à compreensão de toda a dimensão da fé, reflecte, a um tempo, as nossas certezas e os nossos medos.
Vale a pena referir a cena de hoje: Sodoma e Gomorra são duas cidades condenadas pela injustiça (sa’qat) que nelas impera. Deus conta a Abraão, em jeito de confidência, que tudo será aniquilado. Aqui, Abraão, como quem compra ou vende ovelhas – nota-se bem o seu hábito de negociar – põe-se a fazer contas com Deus, a interceder pelos outros. Pede-lhe, sobretudo, que poupe os inocentes e aceite a justiça de poucos como o sinal da salvação de muitos.
Aqui, aprendemos a solidariedade para com os que estão na mó de baixo. Compreendemos que, em termos de fé, há uma produção não contabilizada. O silêncio de uns, os gestos escondidos de renúncia, a procura paciente da justiça, a oração proferida na noite, a dádiva generosa pelos outros – tudo isso que não vem nos cartazes, que não serve para publicidade, que não inspira encíclicas, nem sermões, nem é citado ou oferecido como modelo, tudo que decorre no oculto discreto torna-se redentor.
O diálogo de Deus com Abraão revela, claramente, que os justos pela sua conduta, acabarão por salvar os ímpios: «Se eu encontrar em Sodoma dez justos, pouparei, por causa deles, a cidade inteira».
Deus tem uma medida original para nos medir. É inútil desenvolvermos o jogo barato dos nossos sofismas. Há uma transparência que vale mais que todos os títulos e todas as vaidades.
Pe. António Rego