
III – Domingo do Advento
12-12-2025Era uma vez um cidadão pachorrento, que uma tarde, desceu ao rio para pescar. Veio depois contar aos amigos a abundância da sua pesca. E, como normalmente acontece, no dia seguinte, ao saberem disto outros interessados, aumentou de tal modo o número de frequentadores daquele lugar, privilegiado para a pesca, que se tornou necessário criar uma meticulosa organização.
Compraram um prédio com várias salas de trabalho, instrumentos de apoio, nomeadamente, central telefónica, ligação à internet, sondas, GPS, a estruturação de um serviço de contabilidade, etc. Definiram regras de concorrência e de convivência. Enfim, construíram uma tal máquina de apoio, que nunca mais tiveram tempo para a pesca. As estruturas ultrapassaram a actividade.
Diz-nos o evangelho de hoje que os discípulos de João foram perguntar a Jesus se Ele era ou não o Esperado de Israel – o Messias. Jesus não hesitou em responder-lhes: “Ide dizer a João o que vistes e ouvistes: – os cegos veem, os coxos andam, os mudos falam…”.
Desta resposta de Jesus não restam dúvidas quanto à localização certa onde se joga a Sua acção: no meio dos homens, e em favor dos mais carenciados. Embora as nossas Igrejas não estejam isentas do poder do mal, não é tanto dentro delas que se torna necessário dar sinais identificativos de quem é Jesus, e como se prolonga hoje a sua acção.
Embora os católicos praticantes sejam pessoas que pela sua atitude mostram que a fonte indispensável da nossa vida de amigos de Jesus é a Eucaristia (porque renovação do mistério pascal do Senhor e refeição onde Ele refaz as nossas forças), só isto não basta para dar resposta a quem hoje O procura. Para que os homens possam pôr a sua confiança em Jesus de Nazaré o sinal de que precisam é verificar que os paralíticos, os que não davam um passo, para ajudar os outros, os que só buscavam o seu proveito em ser servidos, os que reduziam a sua moral “a não pecar”, agora se tornam serviçais, preocupados com os outros, e por isso, conhecem onde há uma necessidade.
O sinal que inquietará saudavelmente os despreocupados será ver os cristãos a constituírem comunidades vivas, fraternas, sensíveis aos problemas da sociedade, à dor dos homens, comunidades que se convertem em alternativa, na forma de conviver, ao anonimato ou à indiferença social. Testemunho de vidas de comunidades assim é que fazem pensar e levam quem quer que seja a concluir que “no meio de vós está Alguém, que é mais forte do que eu”, a criar o segredo de uma vida mais humana, mais fecunda e mais feliz.
Neste mundo, cheio de palavreado, em que por isso as palavras estão desvalorizadas, o que as pessoas mais apreciam não são os argumentos, as razões apologéticas de que a nossa religião é a melhor, a mais verdadeira, mas a possibilidade de os cristãos serem reconhecidos como pessoas humanas, livres, criativas e alegres.
Quem assim viver a sua condição cristã contribuirá para alegria do mundo, mostrando que Jesus é a Boa Notícia.



