Solenidade de Todos os Santos
01-11-2024XXXI – Domingo do Tempo Comum
01-11-2024Hoje, é dia de Todos os Santos, ou melhor, é dia de proclamarmos que a Igreja, feita de pecadores, é também santa. Os pecados dos seus membros não a impedem de ser santa, de ser expressão da santidade de Deus.
Hoje, falar da santidade parece uma coisa do outro mundo, até porque a palavra santo muitas vezes é carregada de um sentido pejorativo. Ouve-se dizer: “não sou nenhum santo”, “olha o santinho!…”. Estas e outras reacções dão a entender que neste mundo não há lugar para a santidade.
Outros julgarão que santos são aqueles que estão nos altares, tantas vezes procurados, mais que nosso Senhor, só para fazerem milagres, para resolverem situações de crise e não para serem imitados pelos seus exemplos de heroicidade, de esforço e abertura à graça, pela qual foram saindo da vulgaridade, e hoje ressalta aos nossos olhos. Nos altares, eles lembram-nos para os imitarmos, para os seguirmos na sua forma de viver a fé.
Mas, diga-se em abono da verdade, os santos não são apenas os que estão nos altares mas constituindo uma multidão inumerável de homens e de mulheres, marcados na fronte pelo sinal da cruz, cujo testemunho de vida nos impressiona pela sua elevação e transcendência.
Nunca mais me esqueço da reacção que senti quando me encontrei bem de perto, frente a frente, com um homem colossal, de estatura baixa, franzina, com uns olhos grandes, um rosto sereno e uma alma tão grande que lhe proporcionava uma verdadeira auréola, fruto da presença e da acção de Deus nele. Trata-se de D. Hélder da Câmara, Bispo de Recife e Olinda.
Foi essa alma, progressivamente inundada pela graça, que dava à sua vida a excelência, a transcendência e a força de atrair as multidões dos mais carenciados, que acreditavam nele pelo seu compromisso de vida e frescura das suas palavras.
Ele e tantos outros como Luther King, Santo Óscar Romero, Fr. Roger Schultz, a minha mãe, a Luizinha, o Zé Paulo, etc, mostraram-me como Deus é santo e fonte de santidade. Tudo isto acontece numa Igreja onde são conhecidas as faltas de verdade e lealdade dos seus membros face às misérias humanas, aos problemas e novos horizontes, que se foram rasgando, ao longo dos tempos.
Apesar de a Igreja ser a “luz das nações”, muitas vezes aparece marcada pela cegueira em face dos sinais dos tempos e pelo seu eterno hábito de chegar demasiado atrasada.
Apesar de Jesus lhe ter dado o grão de trigo como símbolo da sua natureza e da sua função no mundo, ao longo da sua história, tantas vezes ela abusou do poder, das suas incríveis pretensões frente ao mundo e em outras tantas recusou confessar as suas faltas, os seus erros, a que acrescem os esforços em mascará-los.
Por detrás disto tudo, fruto da imperfeição, da fragilidade humana, estão o mal, o vício e o pecado que não são o suficiente para ensombrarem o poder de Deus e a sua santidade, que brilha na vida daqueles filhos que a mãe Igreja hoje festeja e pelos quais louva o seu Senhor.
A minha avó dizia que eram eles que aguentavam o mundo, e apesar de tudo, são tantos que nos levam a cantar: “Eu vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, qual esposa adornada para seu Esposo.”