V – Domingo da Páscoa
27-04-2024Encontro de Coros – 11 de Maio – 21:30h
27-04-2024Não sei o que para uma parte muito considerável dos nossos cristãos poderão significar estas palavras de Jesus: “Eu sou a videira, vós os ramos. Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Quem permanece em Mim dará muito fruto”.
A vide, sumamente familiar aos palestinianos, é uma planta que exige muito amor da parte do lavrador que a planta, rega, poda e enche de mil cuidados, para a constituir como motivo do seu orgulho e para lhe dar o precioso fruto do vinho, indispensável para os momentos de festa.
Eis porque, durante o Antigo Testamento, Deus usa a imagem da vinha para traduzir o que para Ele era o povo de Israel, e qual o tipo de relação que com ele queria manter. Por outro lado, a destruição da vinha era o melhor símbolo para exprimir as calamidades de carácter nacional. Jesus, que na sua linguagem costumava fazer recurso das coisas familiares, agora, para falar do tipo de relação, da união íntima entre Ele e os seus discípulos, usa a imagem da videira e dos ramos. Quem conhece a planta não é necessário explicar que nem todos os ramos se desenvolvem bem. Mas, relativamente a todos tem de haver cuidados constantes, inclusive, de poda de limpeza e de alimentação.
É o vinhateiro que se encarrega desta tarefa.
Na curta passagem do evangelho deste dia, várias vezes, Jesus usa a palavra “permanecer” para traduzir o tipo de relação que deve existir entre a sua pessoa, invisível aos nossos olhos e os que n’Ele acreditam. Permanecer significa “entrosar”, “enxertar”, ” inserir”, isto é, existir dentro. Sendo assim, o crente é aquele que tem uma vida nova, com novos frutos, porque existe dentro de Cristo, e a partir d’Ele, recebe um outro ser que lhe permite também outras manifestações.
Como se depreende, a vida da fé é um verdadeiro mistério, uma realidade escondida aos olhos dos homens, resultante da intimidade a que Cristo nos chama. O ser crente em Jesus ressuscitado é completamente diferente da “fesada”, que muitos dizem ou julgam ter ao afirmarem que cada um pode ter a sua fé, que os leva a fazer isto ou aquilo. Ser crente em Jesus ressuscitado corresponde a uma nova existência, a uma vida nova que Jesus compara a um “olhinho” que irrompe da cepa que pouco a pouco vai crescendo como fruto da seiva misteriosa que o inunda, que o põe em comunhão com os outros ramos, para cada um, segundo a sua capacidade, produzir os frutos que nos deliciam.
Este “permanecer em Cristo” é que dá ao crente a sua originalidade, a riqueza da sua vida e o sabor novo que deve proporcionar aos outros. Este “permanecer em Cristo” diz-me que “o ser cristão” não acontece como fruto da nossa iniciativa, das nossas ações, mas da ação de Cristo em nós. O cristianismo não é um simples humanismo, uma filantropia mas uma forma de viver que resulta da nossa intimidade com Jesus e com a comunidade cristã.
Agora, estais a ver qual é a importância do chamado “culto”: – tornar o ramo mais e mais inserido na cepa. Este é o segredo do sucesso e é isto que pelo que parece, está a faltar cada vez mais aos cristãos, para que a sua fé não seja uma casca mas uma vida.