
VI – Domingo do Tempo Comum
16-02-2025
Mais uma conversa sobre as histórias de Gueifães, com o Dr. Maia Marques
16-02-2025Há quem considere as Bem-aventuranças como o oposto ao Decálogo (dez mandamentos) como a formulação da moral cristã, tida como mais elevada, em comparação com os mandamentos do Antigo Testamento. Ora, esta visão deturpa completamente o sentido das palavras de Jesus, que nunca desvalorizou os dez mandamentos. Poderá dizer-se que o sermão da montanha, de que fazem parte as Bem-aventuranças, retoma os mandamentos da Lei e, longe de os rejeitar, aprofunda-os. De facto, Jesus dizia: “Não julgueis que vim destruir a Lei, mas completá-la.”
Então, que são as Bem-aventuranças? A apresentação da vida de Jesus, a ser seguida, incarnada pelos seus discípulos. São a transposição da cruz e da ressurreição de Jesus para a vida dos seus discípulos. Ao verificarmos que é a eles que as dirige (só eles serão capazes de as entender e seguir) temos de afirmar que as Bem-aventuranças traçam o essencial da vida e da mensagem de Jesus, e por isso, a identidade dos seus discípulos.
Para atém disso, cada uma das Bem-aventuranças brota do olhar para os seus discípulos. Ao ouvi-las ou lê-las, estamos a observar o estado real dos discípulos de Jesus, naquele tempo – pobres, famintos, odiados, e perseguidos.
Aplicadas à comunidade dos discípulos de Jesus, exprimem o contraste entre os valores do mundo e os valores de Deus. A escala é muito diferente e o espírito para segui-la é completamente outro. Os que são convidados como pobres e perdidos são os verdadeiros afortunados, os abençoados, que apesar de todos os sofrimentos podem alegrar-se e rejubilar, porque, não tendo o aplauso dos homens têm a garantia de que Deus os tornará felizes.
Quando o homem começa olhar e a viver segundo o Espírito de Deus, quando caminha na companhia de Jesus, de certa forma, já está a viver a vida que está para vir, mas que já é uma realidade presente. Por exemplo, por Jesus entra alegria na tribulação, na tristeza, a paz, a consolação, a segurança interior, a humildade, na mansidão, na injustiça, na perseguição, etc.
Era o que S. Paulo queria dizer, quando afirmava: – somos tidos como tristes, mas somos alegres. Pobres, mas enriquecemos muitos. Agonizantes, mas com vida. Condenados, mas livres da morte. Por isso, terei de dizer que as Bem-aventuranças são formas de neste mundo identificar a novidade de vida, iniciada pela morte e ressurreição de Jesus.