XV – Domingo do Tempo Comum
15-07-2024XVI – Domingo do Tempo Comum
20-07-2024A maior parte da nossa gente encara os profetas como uma espécie de adivinhos do futuro, o que de modo algum corresponde à verdade. Como a própria palavra indica profeta é aquele que fala em nome de alguém, neste caso, o que fala em nome de Deus e do seu projecto a respeito dos homens.
Ao sabermos que, normalmente, os pensamentos de Deus não são os nossos e os nossos caminhos não são os dEle, depreendemos que os profetas sejam pessoas que, ao pronunciarem-se, fazem-no incomodando, desinstalando, contrariando situações e interesses. Mesmo dentro da Igreja, quem assume uma atitude profética, apontando para outros rumos, para outros caminhos, denunciando situações, comportamento e interesses criados, por princípio é mal aceite e tido não como alguém que fala em nome de Deus mas como um revolucionário, um idealista, que tem a mania de estar no contra…
Desde os seus dirigentes até aos simples membros do povo de Deus, as pessoas não gostam de ser incomodadas. Não é agradável encontrar quem faça ondas. É sempre preferível um mar bonançoso, calmo, que não obrigue a testar ou a cortar amarras. Só que todos nós sabemos que as águas mais ou menos paradas são podres e apodrecem o que nelas se mantém.
Olhando para a história, constatamos que se a existência dos profetas é um bom sinal, uma bênção de Deus porque, homens possuídos por Deus e enquanto tais movidos por Ele a intervir em favor do seu povo, no exercício da sua função vão ser incómodos, inconvenientes, desestabilizadores.
Muitos pagaram com a vida o exercício da sua missão. E ninguém julgue que os profetas a realizam por esta ou aquela razão ideológica ou impulso psicológico, mas porque não podem calar a voz de Deus que faz deles a sua boca contra a mentira de tantas leis, que existem apenas para favorecer os interesses de alguns, as desigualdades com que são tratados os membros da sociedade, o apelo a tantos ídolos, a pretexto da felicidade, o desprezo pela hierarquia dos valores e dos princípios que deveriam nortear o comportamento moral e ético da sociedade, o ritualismo da religião, que se pratica dentro das igrejas, porque não acompanhado pela vida no concreto.
O profeta é o homem dominado, possuído pelo Invisível, pelo Inefável, pelo Intemporal.
Para alguém ser profeta tem de ser livre. E alguém para ser livre tem de pagar um alto preço. Mas o ser livre é o que torna um homem, um profeta num homem feliz, apontando para caminhos que trazem mais vida a quem o atende e acolhe.