
XV – Domingo do Tempo Comum
12-07-2025
Papa assumiu desejo de visitar Portugal «logo que possível»
12-07-2025Há uns anos atrás, andava por aqui um homem de quem nunca ouvi uma palavra nem o vi a conversar fosse com quem fosse. Tinha um aspecto muito degradado. Era triste, calado, com um olhar vago, com roupa muito surrada, própria de quem tinha frio, durante todo o ano. Caminhava devagar, parecendo assim arrastar a sua cruz. Via-o sentado no muro do jardim, cansado de uma vida que parecia pesar-lhe. Nunca o vi a pedir esmola. De quando em vez, encontrava-o nas celebrações, mas sempre no último banco. Recordo-me que algumas pessoas comentavam que ele cheirava mal. Não era de admirar. Não sei qual seria o comportamento de quem estivesse ao seu lado no momento do abraço da paz, mas suponho que faria de conta. E se tal não acontecesse, que diriam as palavras, que se exprimiria com o rosto, que sentimentos brotariam do coração?
Um dia, o grupo de jovens organizou um almoço, que me parece estar relacionado com o natal dos idosos da paróquia. Terminada a celebração das 11horas
naturalmente, entrei na cripta para ficar. E os meus olhos enxergaram que as diversas mesas começavam a estar preenchidas, inclusive com cristãos que desciam da igreja. Junto à porta que dá para o bar, apenas se encontrava uma pessoa, que se destacava pelo seu isolamento. Era ele, o sem nome. Para mim, aquela situação era um verdadeiro grito, uma denúncia de uma fé falsa, como será sempre a que leva o crente a dirigir orações bonitas a Deus e a passar ao lado do seu semelhante.
Aí tive um lampejo a lembrar-me que o meu lugar seria, inevitavelmente, naquela mesa, que embora numa posição lateral, tinha honras de presidência.
Na altura tive jovens que, servindo as mesas, se abeiraram de mim para mostrarem a sua estranheza, senão o seu escândalo. Mas realmente, tenho de confessar: – quem me dera ter sempre aquela coragem, aquele impulso interior.
A sociedade da correria, que é a nossa, tantas vezes sem alma, sem sentimentos, sem consciência, é marcadamente indiferente. Também não admira, porque quem é indiferente a Deus, por princípio, também o será para com o seu semelhante. Deus é quem cultiva o coração do homem e o enriquece.
Neste nosso mundo, cada vez mais vemos que as pessoas não contam, são números, são meros recursos humanos, que se procuram ou se deitam fora, conforme as circunstâncias. Todos os dias, os males enchem os noticiários e não nos impressionam, de tanto que estamos habituados a vê-los, lá longe. Eis porque, nesta cultura da indiferença, se alguém aparece deitado na rua, passa-se ao lado, ou alguém terá a ideia luminosa de chamar o 112 para entregar o “embrulho” na urgência de qualquer hospital. E aí, que alguém cuide dele. Para isso se pagam os impostos.
Realmente, o computador dos afetos, da ternura está baralhado (inclusive recordemos os comentários que têm sido feitos por “notáveis pensadores” nos meios de comunicação social sobre a “presidência dos afetos”).
Em muito se nota uma alma embotada e o sentir gasto, a ponto de se julgar como sociedade próspera aquela em que cada cidadão tem o necessário para resolver os seus problemas, sem precisar dos outros. Eis porque alguns recordam esta verdade filosófica: “Quanto mais conheço os homens, mais gosto dos…”
Certamente, não será esta a lição que nos dá o chamado Bom Samaritano.