
XVIII – Domingo do Tempo Comum
02-08-2025
60.º Aniversário de Sacerdócio – Pe. Orlando dos Santos
02-08-2025Um dia destes, li que no nosso tempo os valores dignos de condecoração são os que se relacionam com o dinheiro, o desporto e o cinema. É nestes domínios que podemos encontrar as pessoas reconhecidas e tratadas como importantes, tenham ou não tenham uma vida moral digna de respeito e admiração. Normalmente, é o que não têm, ou mostram o contrário.
Noutros tempos, e sobretudo entre os orientais, o que se procurava e admirava era haver um homem sábio, que tivesse uma noção correcta, sensata, clara e clarividente da vida. Hoje, a estas pessoas chama-se “totós”.
A Bíblia apresenta-nos normas de sabedoria, nomeadamente, vindas de homens como Coelet, de que nos fala a primeira leitura. Terá vivido em Jerusalém, cerca de 220 anos, antes de Cristo. Aplicou-se a encontrar e a escrever os pensamentos que traduzissem a verdade das coisas. Isto aconteceu num tempo e espaço em que a sociedade florescia pelo seu bem-estar socioeconómico. Não faltavam negócios, possibilidades de enriquecimento e, como hoje, muitas pessoas não pensavam senão no dinheiro, no gozo da vida, esquecendo a prática religiosa e renegando a fé. Poderiam não ter títulos bancários, mas o dia-a-dia era um delírio colectivo, uma corrida desenfreada e insensata pelo acumular de bens.
A mensagem de Coelet era esta: “Há um tempo para tudo na vida, tempo para nascer e tempo para morrer, tempo para a guerra e tempo para a paz, tempo para adquirir e tempo para perder…” “Vi tudo o que se faz debaixo do sol, achei que tudo é vaidade e vento que passa” Ecle. 3
Reparem: repete 25 vezes esta afirmação “tudo é vaidade”. Talvez não saibam, mas esta palavra, vinda do latim, significa vazio. Realmente, quem é vaidoso mente, porque aparenta o que não é. Vaidoso é o que não tem consistência, é o que é vazio. Por isso, passa e tem a sorte do vento. Coelet perante os acontecimentos do seu tempo não podia chegar a outra conclusão. Nomeadamente, Dario, rei da Pérsia, tão célebre e tão rico, foi humilhado por Alexandre Magno. Este, com 33 anos, depois de ter conquistado um enorme império, morreu ingloriamente, deixando a sua herança retalhada por três lamentáveis sucessores.
Ainda hoje as pessoas trabalham, lutam e matam para chegar ao poder e para serem importantes. O fim é sempre o mesmo: – ficam despojadas de tudo. Tudo é vaidade e correr atrás do vento.
Que fazer, então? Deixar de trabalhar, de se empenhar e entregar-se a comer e a beber, que amanhã é outro dia?
A resposta não a encontramos em Coelet. Nele continuam suspensas as interrogações sobre o sentido da vida. A verdadeira resposta é-nos dada por Jesus, que não nos ensina a corrermos atrás do vento, a vivermos de sonhos e de ilusões, ou a aproveitarmos desenfreadamente o que há neste mundo, como se mais nada existisse. Isso seria, como é, uma vida vazia, sem sentido porque um dia ceifada e atirada para o chão.
Hoje, Jesus lembra-nos que a nossa vida não depende da abundância de bens. Quem, sobretudo, se preocupa em acumulá-los em vão se agita e erradamente orienta a sua vida.