
XXIII – Domingo do Tempo Comum
07-09-2025Quando leio ou ouço uma passagem do evangelho como a de hoje, sou tentado a pensar e a dizer que o que hoje acontece neste tempo me causa uma séria perturbação: – vivo num mundo muito ao contrário. Não vou entrar na análise escalpelizada do nosso tempo que, como os outros, tem coisas boas e más. Claro, que as más nos chocam mais e por elas nos deixamos impressionar mais facilmente.
Neste sentido, permitam-me destacar uma característica típica dos nossos dias que consiste no desprezo ou no ataque, mais ou menos frontal, ao que é instituição. Esta atitude, que muitas vezes traz dentro de si uma ânsia de afirmação pessoal, de liberdade, de respeito pela dignidade e consciência humana, é também fruto de uma outra atitude filosófica que se caracteriza pela queda de um ídolo – o ídolo da Razão, que os franceses, e não só, julgaram ser a luz que viria resolver todos os problemas.
Desiludam-se. Agora, não há Razão. O que existe são razões. Cada um acha-se no direito de ter a sua. Por isso, tudo é relativo. O que é importante para uns não o será para outros. Ninguém, nenhuma instituição, inclusive a Igreja, tem o direito de impor uma doutrina, uma moral. Cada um segue a sua ideia, o seu caminho. Nada e ninguém tem o direito de o contestar. Segundo a lógica desta atitude, por exemplo, parece-me que a Igreja nunca teria ou terá o direito de anunciar a sua mensagem. Pelo menos, muitos dos seus membros acham-se no direito de não a acatar.
Mais ainda, estou perfeitamente convencido que, ao manter-se como válida esta atitude, se Jesus voltasse ao mundo em carne e osso, ao encontro de pessoas e grupos do nosso tempo, não faltaria quem Lhe dissesse: “O Senhor fica com a sua e eu fico com a minha. Não tem o direito de se pronunciar sobre a minha vida”. Este relativismo, tantas vezes apresentado como expressão do pluralismo e do respeito pela consciência de cada um, também acontece pela falta de formação, pela ausência de uma consciência minimamente aprofundada e que está na base da “bagunça”, da confusão que muitos teimam trazer para dentro da Igreja, invocando para tanto a capa do Papa Francisco, que legitima tudo o que é do seu agrado e os leva a contestar o que os incomoda.
Leia-se o Evangelho de hoje. Tenha-se em conta o que Jesus nos diz e se houver dificuldades ou dúvidas (que são naturais) pergunte-se o que pensar.
Facilmente se conclui que ser cristão “não é pera doce”. Não é a “babugem dos avés” ou o manter de meras tradições para emoldurarem determinados momentos da existência humana.
Sem rodeios, lembremo-nos que Jesus define o segui-lO como o “carregar a cruz”. E a cruz é sempre uma realidade profundamente incómoda. Ele não nos convida ao sofrimento, à mortificação, mas a amar. E amar implica sempre o sacrifício, a imolação, a doação da vida. Da nossa mãe nunca esperámos ou quisemos o sacrifício, a renúncia, a imolação da sua pessoa, mas o amor. E por causa do amor dela nunca esquecemos o que foi e o que fez, tantas vezes dizendo não a si própria para ser e estar connosco. Esta tem de ser a mensagem da Igreja, esta será a postura dos seus membros, sem rodeios.