XXV – Domingo do Tempo Comum
21-09-2024XXVI – Domingo do Tempo Comum
28-09-2024Eu julgava que os galos ao cantarem o fizessem por um determinismo natural, nomeadamente para se relacionarem uns com os outros ou para transmitirem uma mensagem, por exemplo que há guerra no capoeiro ou que é chegada a madrugada, que vai surgir um novo dia.
Um dia destes, verifiquei uma cena engraçada: não um galo, mas um garnisé teve a ousadia de subir ao muro que separa a minha casa da do vizinho. Tem mais de dois metros de altura. Quando tal aconteceu, de cabeça bem erguida, pôs-se a cantar a sua música, cheio de garbo, de poder. Certamente não era para eu ouvir, mas para se mostrar ao outro, mais fracote, que lá ia respondendo, mas sem tanto folgo, sem tanto papo. O primeiro queria dizer-lhe: “Eu sou o maior! Quem subiu e reina tão alto?”. Mas o outro respondia: “Eu também estou aqui. Também tenho o meu território, o meu domínio… ”
Infelizmente, a nossa vida, o nosso dia-a-dia, a nossa sorte é o que é, tantas vezes numa luta ou por uma luta de galos, que disputam o domínio, para tanto dispondo dos seus poderes, fazendo dos outros meros trampolins para se promoverem, para reinarem.
Já no princípio da Igreja, aconteceu assim. Doze homens foram iniciados por Jesus para servirem os outros pela Palavra e pelo amor. Quase três anos depois, Jesus surpreendeu-os numa discussão surda e envergonhada sobre qual deles era o maior.
Ainda hoje acontece o mesmo nos meios mais diversos, inclusive entre padres e bispos, cuja mitra tem de ser mais saliente que a do outro, cujo campanário tem de ser mais alto que o da igreja vizinha. Por isso, há encontros, que em vez de serem expressão de comunhão de comunidades são sinais de rivalidades e incremento de individualidades.
O ambiente em certas paróquias é verdadeiramente enfestado de ciúmes, de agressões, de conflitos, por causa de quem quer mandar mais e evidenciar-se perante os outros. Uma verdadeira feira de vaidades, senão, às vezes, um ambiente de peixaria.
Hoje, em vez de fazerem da política um altar, onde publicamente exercem o seu sacerdócio, muitos fazem dela uma verdadeira alquimia através da demagogia e corrupção.
Como é bom encontrarmos pessoas de coração lavado, sem segundas intenções, que de uma forma humilde, silenciosa, alegre e desinteressada, fazem o que melhor podem e sabem, procurando juntar-se a outros, para assim buscarem o bem comum, sobretudo a defesa dos mais fracos, dos mais dependentes.
Quem tem mais poder não é aquele que se aproveita, que se eleva a si mesmo mas o que é aproveitado e elevado por aqueles a quem é benéfica a sua vida e a sua acção.
Quem tem mais poder não é aquele que se julga fazer mais que os outros mas o que procura fazer mais por eles. Quem tem mais poder não é quem quer ser tratado por pai, mas o que os outros reconhecem como tal. Não é aquele que gosta de ser chamado doutor, mestre mas o que os outros procuram para que o seja. E assim, sou obrigado a terminar recordando estas palavras de Jesus: “Quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado”.