XXVI – Domingo do Tempo Comum
28-09-2024Workshop “Deixa-te Contagiar” – ALVORADA Grupo Musical Litúrgico
28-09-2024Uma das coisas do Evangelho que sempre me impressionou ouvir foi: “Se a tua mão, se o teu pé, se o teu olho foi para ti ocasião de pecado, corta-o(a), arranca-o e deita-o fora”. Ouvi dizer que alguém levou isto tão a sério que fez mesmo o que literalmente estas palavras prescrevem. Ora, Jesus nunca poderia recomendar esta medida de uma forma objectiva, como se dá a entender.
Por outro lado importa lembrar que esta posição deve ser sempre entendida segundo a mentalidade radical dos judeus, para os quais não há o meio-termo, que normalmente entre nós se diz de contemporização.
Só um dia destes, e da autoria do Sr. D. António Couto, encontrei a respectiva interpretação que me alegrou e partilho convosco. Assim, diz ele que “a mão indica a nossa acção, o poder fazer o bem ou o mal. Se se faz o mal é melhor cortá-la como faz o lavrador aos ramos secos da videira e das árvores de fruto. O pé indica o nosso caminhar, que pode levar-nos por e para os maus caminhos. Se nos conduz para o abismo, é melhor cortá-lo. O olho, que indica os nossos desejos de bem e de amor, de cobiça, ódio, raiva e ciúmes, pode levar-nos à mesa da alegria fraterna, como ao ciúme e à inveja”.
Portanto, estas maneiras de ver podem levar-nos ao mal e ao sentimento venenoso de querermos o bem só para nós. É melhor arrancar pela raiz este veneno mortal. Por outras palavras, aquilo que em nós pode ser impeditivo para nos abrirmos à novidade do Reino é o que devemos retirar da nossa vida para não trocarmos o eterno pelo passageiro, o terreno por aquilo que é divino. Se queremos ganhar a vida eterna, nenhum sacrifício é excessivo. A opção pelo bem tem de ser radical.
Esta radicalidade está em franca oposição ao chamado positivismo cristão, que leva muita gente a pensar e afirmar que nos salvaremos todos, mesmo sem esforço.
Sem cairmos em qualquer espécie de fundamentalismo, quero dizer que a redenção de Cristo e a bondade de Deus não transformam o mundo numa máquina, que automaticamente transporte toda a gente à vida eterna, sem qualquer esforço pessoal. Deus não salva o homem sem a colaboração dele.
Outros há, que entendem a radicalidade do Evangelho como sendo apenas relativa à questão da justiça social e a certas relações de convivência humana, sendo tudo mais encarado como desnecessário ou até anacrónico, como por exemplo: o sacramento da confissão, o matrimónio, a moral sexual, os escândalos, etc.
Cristo não quer neuróticos, mas também não quer a mediocridade, que parece ser a forma mais comum de tratar a fé, a forma muitas vezes recomendada para não espantar a caça ou afugentar a freguesia. O Papa Paulo VI dizia: “Não adociqueis tanto o Evangelho, que o despojais do seu aspecto divino”.