XVIII – Domingo do Tempo Comum
03-08-2024XIX – Domingo do Tempo Comum
11-08-2024As multidões são sempre anónimas, mais ou menos, massa informe, a projectar-se neste ou naquele outro sentido, conforme a habilidade e os interesses dos gurus, que as comandam. Mas, do seu anonimato, do seu subconsciente colectivo, da profundidade do coração de cada ser humano que as constituem, vem sempre ao de cima o que lhe é mais importante. Para além do pão, exprimem a fome de mais justiça, de mais verdade, de mais respeito pela sua dignidade.
Habitualmente, surgem organizações que tiram partido destes anseios, destas necessidades, correspondendo a tais formas com hábeis manipulações, com slogans, com campanhas orquestradas pelos meios de comunicação social, tão ricos em reivindicações. Só Jesus pode fazer esta afirmação, sem igual: “ Eu sou o Pão da Vida”. Jesus é o pão das multidões muito embora tenhamos de reconhecer que também as multidões de hoje estejam muito mais predispostas para desejar o pão e peixe que lhes possa encher o estômago, do que o Pão da Vida, que dura para sempre. Não acreditam nisso, não estão sensíveis para isso.
Como vamos dar-lho, hoje? Antes de tudo, é preciso vencer o desânimo, o cansaço, a falta de imaginação, de corresponsabilidade. Não é verdade encontrarmos muitos cristãos, padres e leigos, desiludidos com o fracasso, real ou aparente, da sua “evangelização”, sem saberem como hão-de levar Cristo às multidões do nosso tempo?
Eu disse que é preciso vencer o desânimo, o cansaço, que muitas vezes se faz sentir entre os agentes de pastoral. Mas, ao pensarmos nisto e na nossa função de “repartidores de Pão”, face a quem normalmente denota um certo fastio, veio-me ao espírito a atitude de tantos pais, que diante de bebés, que não querem comer, inventam esta ou aquela outra forma nova de lhes dar o alimento.
Para além de aprofundarmos a nossa vivência e coerência pessoal, base indispensável do nosso testemunho, temos de criar, inventar novas formas de darmos às multidões de hoje o alimento que lhes garanta, não apenas o agora, mas o futuro, não apenas o transitório, mas o eterno.
Perante as necessidades que os envolveriam, os judeus pararam no passado, a ponto de preferirem as panelas cheias de carne, à dignidade e alegria de serem um povo livre, ainda que muito carenciado no deserto. Mas a sua história estava muito mais no futuro.
No meio das nossas necessidades, tenhamos a clarividência de não hipotecar o futuro com o presente, fixando-nos no passado, e ajudados pelo Espírito – Senhor da Igreja, procuremos novos caminhos para dar o “Pão da Vida” às multidões, que continuam famintas.