III – Domingo do Advento
17-12-2024Ao domingo de hoje costuma chamar-se – “Domingo da alegria” porque o cântico de entrada da missa começa por: “Alegrai-vos, de novo vos digo, alegrai-vos”.
Julgo que a alegria é um dos sintomas mais reveladores da saúde da alma bem como a virtude da gratidão. Costuma dizer-se que “quem canta seu mal espanta”. E é verdade.
Mas não será menos o sorrir.
Por vezes, encontro pessoas que estão deprimidas, mais ou menos, profundamente. O seu rosto fica deveras marcado. Para além das energias que perdem para fazer seja o que for, perdem também muito tempo, certamente a pensar o mesmo dentro do vazio que lhes preenche a alma. Gastam rios de dinheiro em drogas e em médicos. Por isso, a várias, já lhes tenho aconselhado que se querem melhorar não pensem na doença. Procurem andar com a mente ocupada nas tarefas que têm a desempenhar. Trabalhem. Comam bem. E se possível, durmam bem. Juntem-se a alguém que saiba sorrir, que lhe dê a oportunidade de uma gargalhada.
Eu sei que há gargalhas verdadeiramente ocas, verdadeiros estalidos, que rebentam no vazio. Há gargalhadas que escondem uma enorme tristeza. São para despistar. As que eu costumo referir são as que podemos dar em consequência do bom humor, que, se não temos, pelo menos, encontramos em alguém e que podem deixar em nós o balsamo, que cura ou alivia a dor de quem tem feridas na alma.
Devo dizer-vos da minha admiração por quem tem um bom humor, por quem ri e faz sorrir. Se eu pudesse, seria desta forma que sempre gostaria de exprimir a minha vida. Mas, confesso que, muitas vezes, a carga é muito pesada. Provoca contrações, arrancando-me uma das coisas melhores que gostaria de dar a todos e a cada um dos que me encontram.
Por outro lado, não é fácil sorrir. Podemos dizer que é uma herança dos nossos pais, um fruto que colhemos do ambiente em que fomos criados e daquele em que vivemos. É também uma arte, que se cultiva com o amor. Quem ama profundamente, quem é livre no seu íntimo, quem se sente bem consigo mesmo e com os outros, quem tem a alma tonificada pela presença de Deus, (não acredito na virtude da tristeza e das caras pesadas) sorri sem dificuldade, porque antes de mais, o sorriso é uma grande fidelidade a nós mesmos. O homem azedo não sabe sorrir, muito menos, um orgulhoso.
Para além do mais, sorrir não é simplesmente “arreganhar a taxa”. Sorrir não é rasgar o rosto e mostrar os dentes a quem aparece no balcão, com um ar muito amarelo, para gosto do patrão que manda as empregadas sorrirem para melhor venderem o produto ainda que tragam uma montanha de problemas, que lhes dilacerem o íntimo.
Convenhamos, sorrir não é pôr uma máscara, não é envergar uma postura que tem de revestir a cara, como se obrigam as crianças a tomar banho, antes de saírem de casa, pela manhã. Sorrir é a cor de quem vive em paz. Como disse, é também uma arte, muito difícil, inclusive, para dizer coisas duras sem ferir, sem magoar.
Sorrir é um verdadeiro sacramento, isto é, um sinal da presença e da acção de Deus: – o sinal da sua transparência e da sua paz.