Reflita Comigo – Solenidade da Santíssima Trindade

Recordo-me que sendo adolescente ou até jovem, assumia uma atitude semelhante à vossa – a de quem estava do lado da assembleia e ouvia o sacerdote a fazer comentários sobre a Santíssima Trindade.

Lembro-me ser um assunto enfadonho ou então marcado por tentativas de explicar a questão com imagens, com comparações, que hoje considero verdadeiramente descabidas. Assim, encontrei quem procurasse explicar este grande mistério através de imagens, como por exemplo, dizendo que Deus uno e trino é como a folha do trevo que tendo várias folhas dizemos que é a folha, ou como a nossa mão tem cinco dedos e é uma só.

Eu disse que estas e todas as outras comparações a respeito de Deus são descabidas porque uma pessoa não se explica nem se conhece pelo recurso a argumentos do raciocínio, nem se compara, porque todas as comparações são traições.

As pessoas vão-se conhecendo e este conhecimento só se realiza através da amizade, da intimidade. Por outro lado não se processa de uma vez por todas, mas pouco a pouco. E mesmo com uma experiência muito longa, cada pessoa será sempre um mistério que nos ultrapassa e desconcerta. Que o digam os casados, mesmo os que o são há 50 ou 60 anos.

Eis porque, falando-se de Deus ninguém deve explicar o seu mistério. Como uma comunidade de pessoas que é, Deus não se compreende, aceita-se. Se hoje não somos capazes de entender isto ou aquilo, é natural que assim seja. Deixemos passar o tempo, e depois também teremos a eternidade, que não será uma panaceia. Portanto, não tenhamos receio de apresentar às crianças os mistérios de Deus, dizendo-lhes inclusive: “Olha, amanhã vais entender”… (a palavra grega – mistério significa uma verdade tão profunda que nunca se conseguirá atingir plenamente). Mas não haverá maneira de falarmos de Deus? Sim, e é necessário, não através de esforços de raciocínio, porque inúteis, mas através de afetos, de experiências de amor, de comunhão, de harmonia e unidade, até porque o nosso Deus não se carateriza pela inteligência, mas pelo amor. Deus é amor, Deus é comunhão, Deus é família. Por isso, só quem faz este tipo de experiências poderá conhecê-lO.

Ao falar a adultos ou a crianças sobre o mistério da Santíssima Trindade, em vez de qualquer sermão, por mais eloquente que seja quem o faz, a forma mais profunda e adequada será permitir a quem quer que seja a experiência do amor em família, a vivência da harmonia, da entreajuda e da comunhão entre os membros de uma comunidade. Agora, percebeis porque podemos dizer que a vida do casal cristão é sacramento: – porque aberto ao amor de Deus, torna-O presente, próximo de quem O experimenta. “Quem ama nasceu de Deus e conhece-O. Deus está nele.”