Festa do Baptismo do Senhor
13-01-2025Concerto de Reis – 2024
14-01-2025Não vou encher esta página com as mesmas coisas que terei oportunidade de dizer na liturgia dominical, que nos fala do baptismo de Jesus.
Aproveito para lembrar, mais uma vez, que milhares de anos antes de João, já havia práticas baptismais em rios sagrados, dada a importância que tinham para a vida das populações. Essas práticas tinham uma finalidade de purificação interior (naqueles tempos, porque hoje, dado o facto do homem perder a noção de Deus, também perdeu a noção do pecado).
O baptismo de João era um convite dirigido às pessoas para que se arrependessem dos seus caminhos e assim se preparassem para a vinda dAquele que viria recriar a vida do homem. Assim sendo, pergunta-se: – Então, ao ser baptizado, também Jesus quis mostrar que estava arrependido dos seus maus procedimentos ou então quereria estimular-nos a fazer o mesmo com o seu exemplo?
De modo nenhum. Primeiramente, porque Jesus é o Justo, que ao mergulhar nas águas dos pecadores para as santificar, demonstra não ter vergonha do homem e da poeira dos seus pés. Em segundo lugar, porque o nosso baptismo não tem nada a ver com o dEle.
Quando fomos baptizados foi para receber a vida, a condição para que apontou o dEle. Como sacramento que é, o nosso baptismo não foi um simples rito humano mas um gesto de Cristo ressuscitado, que realiza, que faz acontecer em nós a vida, a dignidade que a Sua ida para o Céu tornou possível. Infelizmente, muitos dos nossos cristãos não têm noção disto. Geralmente, o baptismo não é procurado como princípio de uma vida para ser vivida mas como uma simples tradição, que ainda se vai mantendo, de geração em geração.
Eu digo que ainda se vai mantendo porque, devido à profunda crise da natalidade e à mentalidade secularista que leva muitos cristãos a uma simples atitude de indiferença religiosa, de abandono de Deus, o número de baptizados está a diminuir drasticamente.
Disse atrás que, para muitos não passa de uma mera tradição familiar, motivada mais por razões de carácter psicológico, cultural, que por razões de fé. Se fosse por razões de fé, então encontraríamos os pais a viverem o que dizem querer e procuram para os seus filhos. Ora, o mais comum é vermo-los com um comportamento completamente alheado do que será admitir de um cristão, a ponto de frequentemente ouvirmos dizer: – “Que tem o baptismo do meu filho a ver comigo?” Para já não falar de questões mais profundas, terei de responder: – É porque então já te esqueceste do teu ou nunca soubeste o que era.
De facto, quantos se preocupam em viver e manter a vida, a dignidade que receberam de Deus gratuitamente, e que por isso se chama vida da graça?
Quantos, tendo a sua consciência viva, sensível, se acham com a capacidade de comungar? Sabendo que o cristianismo é uma vida que vem de Deus e não uma simples atitude de fidelidade a valores como o ser justo, solidário, verdadeiro, honesto, etc, que qualquer homem deve ser, quantos são os que se reconhecem e atuam como membros de uma família – a Igreja? Quantos são os baptizados que por isso se reúnem na casa comum – a da sua igreja paroquial à mesma mesa, para alimentarem o que os une, para um compromisso de acção comum?
Em abono da verdade, digam-me: – De uma forma geral, o que se vê ter mais importância:- o que acabo de dizer ou o almoço do dia, a roupa e o fotógrafo? Se o baptismo é isto, que de novo poderemos esperar dele para o dia-a-dia?
Apenas quis assumir uma atitude semelhante à de João quando lembrava às pessoas a necessidade de mudar de vida.