I – Domingo do Advento
02-12-2024Padre Orlando – 36 anos ao serviço da Paróquia!
02-12-2024Não sei qual é a vossa reacção, mas devo confessar-vos que, para mim, a vida é cada vez mais curta, não só porque não terei tantos anos para viver como os que já vivi mas porque, dia-a-dia, tenho a noção de que ela se esvai de uma forma cada vez mais rápida. À medida que os anos passam, mais rápida é a noção que tenho do tempo. Cada vez demora menos tempo viver o tempo.
Quando eu era criança, a vida apresentava-se-me como uma experiência que eu tinha num comboio lento, que parava em não sei quantas estações e apeadeiros. Tinha a sensação de que demorava muito a chegar ao destino. Hoje, vejo a vida embarcada num comboio de alta velocidade, no qual nem sequer ouço o barulho do deslizar pelos trilhos dos dias, ultrapassados, um atrás do outro.
Isto vem a respeito de estarmos a começar um novo ano litúrgico, celebrando o primeiro domingo do Advento, que significa chegada, vinda. Sim, começamos por fixar a nossa atenção no fundamento da nossa condição e vida de cristãos – que é a segunda e gloriosa vinda de Jesus. Não sabemos quando, mas o Senhor virá. Também é verdade que o Senhor vem, vem em cada dia, em cada ano, não para repetir o que já vivemos, mas para nos fazer descobrir algo de novo a seu respeito, para esperar da nossa parte algo que não fomos nem fizemos, enquanto seus colaboradores, e para tornar realidade o que esperamos como ideal ou achamos ser impossível.
O Advento deste ano não pode ser nem será, certamente, a repetição do que foi o ano passado, não só porque a vida não se repete, mas porque querendo que aconteça Natal, esta festa vai exigir de nós a disponibilidade e o compromisso para nos abrirmos, de uma forma ainda não vivida, à novidade que a sua presença nos traz. Neste início de um novo ano, de mais um Advento, ouvimos: “Mais uma viagem, mais uma corrida!”. Entramos na roda, cada um em sua cesta, mas para vivermos as coisas de uma forma diferente, para novas sensações, que a vida nos traz.
Neste início de um novo ano litúrgico, mudamos o calendário e buscamos uma nova página para encontrar novos acontecimentos, no tempo que passa. E a respeito disto termino com um diálogo havido entre o proprietário de um quiosque que, no princípio do ano estava a vender calendários. Um seu vizinho passa e pergunta: “Acha que este ano será feliz? Certamente – respondeu. – Como no ano passado? Não, muito mais. – Gostaria que fosse como algum dos últimos anos? – Não, não deixam saudades. – Voltaria a viver a sua vida, começando pelo ano em que nasceu? – Oxalá Deus o concedesse. – Mas gostaria de viver a vida com os prazeres e as desgraças que já viveu? – De modo algum. – Então como gostaria que fosse a sua vida? – Como Deus a mandasse, sem mais. – Assim a quero eu, assim a queremos nós. Bela não é a vida que se conhece, mas a que esperamos, a futura. Com este novo ano, a sorte o trate bem a si e aos outros, não é verdade? – Esperemo-lo. – Então, dê-me o almanaque mais bonito que tiver…
Que não te falte a esperança. Que não te faltem novidades boas e, sobretudo, a novidade do Menino que já veio, do Senhor que virá.