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23-03-2025
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26-03-2025Não sei como são formados os estudantes de jornalismo, porque todos os dias enchem os jornais e programas da TV apenas com factos trágicos, mais ou menos monstruosos. Parece que a sua formação consiste numa espécie de lavagem de cérebro, que só lhes permite ver e relatar o que há de mais triste e lamentável na vida humana, tal é o ar retorcido com que lêem as coisas. Para eles, só o anormal, o intrigante é que é notícia. O que é bom, o que é edificante não lhes interessa. Os meios de comunicação social são verdadeiros estendais onde, todos os dias, são dependurados, quase exclusivamente, acontecimentos escandalosos, profundamente lamentáveis.
Para além desta denúncia do que é mau, outra característica do nosso tempo é a que se relaciona pela angústia de encontrar os culpados. Enquanto tal não acontece, toda a gente fica em polvorosa. Mas, depois de apuradas diligências, se pode atribuir responsabilidades a alguém, parece que toda a população já pode dormir descansada, ou tomar o pequeno-almoço sem sobressaltos: “- Já foi encontrado o autor do crime! Fica em prisão preventiva…!”
Esta é uma atitude hipócrita, profundamente injusta, como se só aquele ou aquela sejam os responsáveis, os criminosos e os outros, tranquilamente, os possam julgar e condenar.
Para além desta caça às bruxas, tenho encontrado as nossas televisões que gastam uma parte considerável do seu tempo a entreter a população com o dissecar mórbido deste ou daquele caso.
Dizem-me que o auditório gosta disto, razão porque o aproveitam para manter ou aumentar níveis de audiência. Se nunca gostei de ver juntas duas ou três mulheres do “solheiro”, a falar dos outros, muito menos aceito ver toda uma sociedade convidada à mesma postura.
Um dia, pessoas desta raça vieram ter com Jesus para lhe contarem a última: “Então, não sabes o que aconteceu? Uma desgraça!… Os romanos banharam em sangue uns tantos galileus, que estavam a armar-se. Mais uma vez se prova que Deus castiga sem pau nem pedra. Quem as faz, paga-as”…
Curiosamente, Jesus reage a esta notícia de uma forma bem diferente. Não se interessa pelos casos, para julgar ou condenar. Para Ele todos são culpados. Todos têm responsabilidades a assumir, enquanto os homens experimentam um gosto sádico em saborear a paz da sua consciência, proclamando a culpabilidade dos outros. Trata-se de uma maneira de abafar a consciência, de proteger a preguiça e o egoísmo. Parece que os outros é que têm de mudar, porque A ou B é que são os culpados.
Jesus transforma os casos em sinais, em apelos para reconhecermos que, se não somos culpados disto ou daquilo, somos mais ou menos responsáveis por tudo o que acontece. Não se pode admitir que o individualismo torne a responsabilidade vagabunda, que a responsabilidade seja sempre dos outros, sem ser de ninguém. Mais ainda: perante os culpados não se julgue que com a cadeia o problema fique resolvido. Pelo menos entre nós, o mais frequente é que as pessoas entram na cadeia com um e saem com muitos mais vícios.
Por isso, toda a sociedade, e cada um de nós deverá perguntar: “Que posso eu fazer para que tal não aconteça?” É o que Jesus nos aconselha ao lembrar-nos os trabalhos com que o vinhateiro se dispõe a tratar a figueira em que não encontra os frutos.