III – Domingo do Tempo Comum
24-01-2025Jesus foi à Sinagoga de Nazaré e depois de ler uma passagem da Sagrada Escritura fez este comentário: “Cumpriu-se hoje em Mim o que acabais de ouvir”. Isto leva-me a ter presente a atitude que os cristãos têm ou devem ter perante a Palavra de Deus. Terminado o oitavário de oração pela unidade da Igreja, pergunta-se: – Poder-se-á continuar a invocar a Bíblia como motivo de separação entre os crentes? De modo algum.
É verdade que não há muito tempo ainda, a atitude que se tomava para com a Bíblia era sinal de ser católico ou protestante. Ainda hoje, é um pouco assim. Os protestantes usam a Bíblia com frequência. Nos hotéis dos países onde são maioria, em vez de revistas têm a Bíblia para os hóspedes. Os católicos de uma forma geral, possuem-na (agora), mas para apanhar pó. Quando alguém faz referência concreta a um capítulo ou versículo da Bíblia, por princípio, é protestante, porque os católicos não têm formação para o fazerem. Dizem-se crentes mas não se sentem à vontade para falar dos seus fundamentos, do seu conteúdo e acrescentam que não falam nem querem falar destas coisas.
Mais ainda: há quem julgue que a divisão entre católicos e protestantes vem da Bíblia e da sua interpretação. Isto leva-me a perguntar se será possível que a Sagrada Escritura, fundamento da fé no mesmo Deus, possa ser motivo para dividir os que nEle creem. Se Deus, se Jesus Cristo é o mesmo, como podemos admitir a divisão? É verdade que a Bíblia ainda continua a ser invocada como pomo de discórdia. Mas ao acontecer isto só poderá ocorrer entre pessoas dominadas pelo fanatismo, pelo sectarismo que inclusive se aproveitam da Bíblia para justificar os seus objectivos doutrinais, morais e políticos.
Entre católicos e protestantes que façam uma interpretação séria e fiel aos textos originais, não há motivo para desacordo. Muito ao contrário, a Palavra de Deus leva-nos a confessar a mesma fé, a pertencer à mesma Igreja, à mesma família de Jesus.
Cada vez mais a Sagrada Escritura será a causa e o forte convite à conversão de católicos e protestantes, para enveredarem por um caminho que os conduza à celebração da mesma fé, ao compromisso conjunto na evangelização e transformação deste mundo.
Os protestantes têm de fazer uma aproximação no sentido de reconhecerem o carácter institucional da Igreja, o primado de Pedro, a verdade e a importância da eucaristia. Nós, os católicos precisamos de nos tornar menos arrogantes, mais pobres da Palavra e mais empenhados na comunhão fraterna.
Eu diria que, nesta altura, os protestantes têm saudades da Mãe, os católicos são filhos que não sentem a necessidade dos irmãos. Para a comunhão, para além da Palavra, torna-se indispensável a nossa docilidade à acção do Espírito Santo, que a torna fecunda nas nossas vidas.