
Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
19-06-2025
2° Dia da Semana Aberta – “Ser Homem e Mulher Hoje”
19-06-2025De vez em quando aparece alguém a “encomendar uma missinha”. Eu quero admitir que este diminutivo é mais uma manifestação para com nosso Senhor e as suas coisas. Mas também posso considerar que seja expressão de uma forma mais ou menos banal de tratar o que há de mais importante na Igreja e na vida do mundo – a Eucaristia.
Depois de Jesus ter instituído a Eucaristia como a forma mais perfeita de bendizer a Deus e de resumir o que foi e é a sua vida, talvez por culpa dos padres, muitos cristãos tratam-na assim, inclusive como parte integrante do ritual pelos mortos ou como a forma mais solene de nos despedirmos deles. Eis porque, se ouve dizer: “Então, não tem missa?”
Particularmente nestes dias, aproveitados para festas de catequese, é recorrente encontrarmos situações em que os adultos dão a entender que a Eucaristia é uma coisa boa, sobretudo, para os mais pequeninos (eles não precisam disso…), uma forma de marcar e encaixilhar uma fase do seu crescimento humano e social.
E como poderia silenciar as vezes em que a Eucaristia, fonte da vida da Igreja, encontro real e renovação de uma Aliança com Deus e os homens, se transforma num mero ritual dentro da Igreja, sem qualquer ligação com o “mistério de Deus”, sendo o mais importante ver o padre a começar e a acabar, sem atenções e implicações ao durante e ao depois.
Estas e tantas outras coisas que eu poderia enumerar, empurraram-me a escrever, a pretexto do que encontramos na segunda leitura, relacionado com o que terá ocorrido na comunidade de Corinto.
Pelo que sabemos, os cristãos desta terra não eram alheios a desordens, à dissolução sexual, a bebedeiras, invejas e discórdias. Para além da divisão entre eles (uns eram por Paulo, outros por Apolo, outros por Cristo), havia grupos e grupelhos por causa das classes: – a dos ricos e a dos pobres, a das boas famílias e a das gentes simples, sem nome.
Isto era verdadeiramente escandaloso, sinal de que a novidade de Jesus e do seu Evangelho ainda não tinham aterrado ali, não tinham “pegado” na vida daquela gente. Mas também iam à missa…
Para tanto, reuniam-se em casas privadas, mais concretamente, nas instalações de algum Basileu (que em grego significa senhor). O grupo dos ricos, que certamente tinham deixado os servos a trabalhar, reuniam-se mais cedo. Passeavam no jardim, conversavam tranquilamente, partilhando as últimas da política, enquanto chegava a hora de se reunirem para a refeição “fraterna”, que normalmente, preparava a “missinha”. Entretanto, chegavam também os outros, os escravos, os que trabalhavam na estiva do porto, no campo, etc. Claro que não tinham meios, embora não lhes faltasse o apetite, para comerem o assado. O mundo à parte em que socialmente os dividiam, também aqui continuava.
Quando disso se apercebe, S. Paulo intervém para dizer: “Mas que pouca vergonha é esta? Pela Eucaristia podemos consagrar, abençoar esta divisão, esta forma mentirosa de viver e celebrar a fé?”
E ordenou o fim daquela chamada “ágape (refeição) fraterna”.
Como fundamento da sua decisão recorda-lhes a instituição da Eucaristia.
Como podem os coríntios, e nós hoje, repetir o sacrifício de Cristo, o dom da sua vida no meio da indiferença, da insensibilidade para com Deus e para com os outros, da divisão, da discórdia e das desigualdades gritantes entres os cristãos?
Reconheçamos, também, que a Eucaristia não é um prémio mas um dom oferecido aos pecadores, um encontro com Cristo, se O procuramos. Nessa altura será uma novidade e abundância desconcertantes.