
V – Domingo de Páscoa
18-05-2025
Peregrinação Vicarial – 24 de maio 2025
18-05-2025Tenho-vos falado dos sinais novos pelos quais Jesus ressuscitado terá de ser reconhecido hoje, dada a vida nova que também O caracteriza.
Assim, há três domingos atrás, a liturgia chamava a nossa atenção para a sabedoria e poder que Ele dá à Igreja, na sua missão de apanhar homens para o interior da sua barca, onde Ele os salvará.
No domingo passado, a liturgia apontava-nos para o que significa o pastoreio, ou melhor, como Jesus contínua presente e agindo na história através dos pastores que dedicam a sua vida a cuidar dos que lhes foram confiados.
Hoje, Jesus deixa-nos outro sinal: – é o amor. Diz Ele, claramente: “O sinal de que sereis meus discípulos é amar-vos uns aos outros.” Mas, quando na Igreja se fala do amor, do mandamento do amor, sinto sempre uma certa dificuldade e contenção, porque tenho vergonha do que não somos, do que muitas vezes não vivemos.
À partida, terei de lembrar, que o amor não precisa de palavras, mas de gestos. Embora haja quem esteja à espera de uma declaração de amor, se a recebe, não fica satisfeito com isso; quer sinais, gestos, uma vida que o comprovem. Por outro lado, a marca de que somos cristãos, discípulos de Jesus é “o amarmo-nos uns ao outros como Ele nos amou”.
Não é propriamente o amar, porque o Adão e Eva já se amaram e até hoje em todos os homens há o instinto e a realidade do amor, inclusive, o amor-próprio, o amor aos animais, o amor aos amigos. A novidade de Jesus e com a qual Ele quer marcar e identificar a comunidade dos seus amigos é o amor sem méritos, sem distinções, a ponto de, inclusive, não ser verdadeiramente cristão ouvir-se dizer: “fulano é muito amigo do seu amigo”. Isto, qualquer homem o faz.
A tal dificuldade de que vos falava está em verificar convosco que, frequentemente, vemos nas nossas igrejas e reuniões de cristãos a agressividade, a rispidez, a suspeição, o egoísmo, o preconceito, o juízo fácil… isto tudo é capaz de acontecer misturado com lindas orações, piedosas ofertas, procissões, lágrimas, devoções a não sei quantos santos, lindos conselhos, etc, isto é, tudo o que se possa imaginar muito bonito e até louvável, mas sem ser o mais importante.
De facto, onde mais nós falhamos é no essencial, no que verdadeiramente nos faz cristãos. E o que nos faz cristãos é o incarnarmos o amor de Jesus, de Quem, pela fé, nos fazemos amigos. Por outro lado, e porque a amizade não conhece fronteiras, cito-vos um caso. Li uma vez, que numa peregrinação de ciganos a Lourdes, um deles, vítima de um cancro nos intestinos, morria aos pedações na cama do hospital. Foi-lhe sugerido que pedisse a cura a N. Senhora, dada a gravidade da sua situação. Rejeitou, porque dizia ele: “ao ver na esplanada um grupo de garotitos paralíticos, pensei que o milagre era mais urgente para eles do que para mim. Eles ainda não tinham vivido. Eu sim, e até demais. Os milagres hão-de respeitar a fila e ser justos. Por isso, pedi que pusessem o meu milagre na fila e resolvessem primeiro o problema dos rapazes.”
Mesmos sem rótulos de cristãos, há homens e mulheres que se amam, que ajudam e escondem a mão, verdadeiros prodígios que são frutos da força invisível do amor, filhos de um Pai que um dia os constituirá como merecedores de uma herança maior, porque, já neste mundo, espalharam o seu rosto e mostraram o que Ele tem no coração.