
V – Domingo do Tempo Comum
08-02-2025
VI – Domingo do Tempo Comum
16-02-2025Quando procuramos pessoas para fazer isto ou aquilo, é possível termos este comentário: “Ando a pescar pessoas para…”. Curiosamente, para traduzir a missão dos seus colaboradores, Jesus tanto usa a expressão “pastor” como “pescador”.
Entretanto, temos de reconhecê-lo, ambas a imagens têm de ser explicadas, porque para o homem dos nossos dias, talvez pareçam pouco respeitosas da sua dignidade, e por isso, as rejeite. De facto, ninguém gosta de ser tratado como “ovelha de um rebanho” nem tão pouco ser “pescado”, como mero recurso humano.
Na pesca ordinária, o pescador busca a sua utilidade, certamente, não a dos peixes que deita para o saco ou para o barco. Também o pastor guarda e apascenta o seu rebanho, cuida das ovelhas que ama e pelas quais é capaz de dar a vida, mas também é verdade que delas espera encontrar a lã e a carne.
No caso em apreço, não é isto o que acontece. Se tivermos em conta que, para os judeus, o mar era a morada do poder do mal, dos demónios, então, ser pescador de homens significa arrancá-los do que os domina, aprisiona, sufoca. Portanto, para os homens ser pescado ou repescado é dar-lhes uma nova oportunidade, é permitir-lhes o futuro. “Ser pescado” não é uma desgraça mas a salvação, fruto da bondade e da misericórdia.
Pensemos em pessoas que, num naufrágio, se vêm dominadas pela fúria das ondas, pelo frio, pelo cansaço, pela solidão. Perguntar-lhes se querem uma rede, uma lancha, uma boia será humilhante ou ir ao encontro da sua mais profunda aspiração que é sobreviver? É neste sentido que devemos encontrar o significado da expressão “pescar homens”. Não haverá necessidade desta missão?
Neste mundo perdido, desorientado, instável, em que tudo parece líquido, sem a tradicional consistência, em que em vez de terra firme onde nos habituámos a pôr os pés, encontramos zonas pantanosas que cerceiam a sua liberdade, dignidade e estabilidade emocional, como não será necessário que os cristãos sejam pescadores de homens, libertadores, salva-vidas?
Também os há, hoje, na simplicidade de muitas vidas que, pela sensatez, conselho e companhia amiga arrancam do poder do mal quem está a ser dominado pelo álcool, sexo, droga, roubo, mania das grandezas, estroinice, preguiça, complexos, depressão, isolamento atrofiante, etc.
E, bem vistas as coisas, só se entrega decididamente a ser pescador de homens, aquele que na vida também sentiu a necessidade de ser pescado. E não esqueçamos que Pescador e Pastor é só um Homem – Jesus de Nazaré. Ele é que sabe quando e como apanhar-nos para o seu barco – a Igreja, comunidade de gente salva.