
VII – Domingo do Tempo Comum
23-02-2025
VIII – Domingo do Tempo Comum
02-03-2025Quando cheguei a uma paróquia, para aí desenvolver a minha acção pastoral tive um colega, muito mais velho e conhecedor dos velhos hábitos da alta sociedade local, que me disse: “Olha, por volta das cinco horas, quando as senhoras estiverem a tomar o chá, até o diabo não quer estar a1i…”. Passavam tudo em revista, louvando uns, condenando outros, certamente, com muito requinte.
Realmente, esta é uma atitude muito nossa. Se se fizer um convite para um encontro cultural, para formação religiosa, a reacção mais comum é ouvirmos dizer que não há tempo. Mas, se quem diz não ter tempo (para estas coisas) encontrar uma pessoa amiga na rua, que dê mais umas dicas sobre A ou B, logo se arma um tribunal, de que a pessoa visada não recebe bom tratamento, sobretudo por aquela que “veio a saber”. Inclusive, há especialistas em recrutar notícias e fazer pronunciamentos categóricos sobre o argueiro que está na vista dos outros, esquecendo ou escondendo a trave que está nas suas próprias costas. A respeito disto, diz Jesus “não julgueis e não sereis julgados, não condeneis e não sereis condenados”.
De facto, só Deus poderia julgar (mas não julga) porque só Ele conhece os segredos do coração, o porquê, o fim e o propósito da acção. Em boa verdade, que sabemos de nós mesmos? E que poderemos saber do que se passa na vida e no coração dos outros? Estaremos por dentro dos condicionamentos a que estão sujeitos por causa do temperamento, da educação, dos complexos e dos medos que têm dentro de si? Por causa disto, quem de nós ainda não se sentiu obrigado a “deitar a viola ao saco”, por se ter enganado?
Julgar os outros é uma operação arriscada. O povo chama-lhe “juízo temerário” isto é, inseguro, problemático, baseado em impressões e incertezas, quantas vezes, frutos de preconceitos. Julgar os outros é como lançar uma flecha de olhos vendados. Não se sabe o que irá fazer. E assim, expomo-nos a ser injustos, intolerantes, obtusos.
Conta-se que um monge conventual, influenciado por um defeito muito frequente na vida comunitária, dizia muito mal de um jovem irmão. O seu anjo da guarda mostrou-lhe a alma do companheiro que, entretanto, tinha morrido e disse-lhe: “Para onde queres que eu o leve: para o céu ou para o inferno?” O tal monge passou o resto da vida a lamentar-se, suplicando o perdão de Deus, porque quando julgamos alguém estamos a decidir sobre o destino eterno do nosso semelhante.
Mas alguém poderá dizer: “mas nós temos olhos, ouvidos e inteligência. Perante isto ou aquilo, naturalmente, formulamos um juízo”. Não é no julgar, no avaliar uma situação que está o mal, mas no rotular, no condenar a pessoa. Reparemos como actua uma mãe, quando o filho faz uma coisa má. Assim, deveria ser o nosso procedimento. Aliás, ouvi outro dia: “uma coisa é o que somos e outra o que fazermos”. Identificar alguém pelo que faz pode levar-nos ao erro.