XXVII – Domingo do Tempo Comum
06-10-2024Vitae Informação l Edição 155
06-10-2024Eu sei que sempre houve divórcios, até porque, antes de serem decretados, havia, como há, muitos mais casais divorciados. Mas podemos dizer que nos nossos dias o divórcio constitui um verdadeiro flagelo da sociedade, que a mina e destrói.
Para além da tristeza e dos problemas que o divórcio acarreta para o, presente, aos membros de toda a família, onde ele ocorre e sabendo que cada família é célula fundamental da sociedade e da Igreja, poderemos pensar no que ela venha a ser no futuro perante tantas famílias já desfeitas?
E porque acontece isto? As razões são as mais variadas e complexas, que não vou analisar, mas permitam-me que aponte algumas. Por exemplo:
– A forma permissiva e facilitista com que muitos pais tratam os filhos, não os sujeitando a uma vida disciplinada, tirando-lhes todas as palhinhas do caminho, dando-lhes, se possível, tudo o que querem. Isto contribui decisivamente para que não tenham uma vontade forte e a devida resistência para enfrentarem as dificuldades que a vida familiar lhes vai trazer. Não aguentam!…
– A falta de conhecimento que os noivos têm um do outro leva-os a não se reconhecerem, uma vez casados. Não é pelo simples encontro dos dois em festas, em cafés, ou até pela simples prática sexual, que se poderão conhecer. Depois, quando os problemas acontecem tudo se esboroa.
– A falta de valores, de princípios espirituais contribui decisivamente para facilitar a separação, quando as dificuldades ocorrem. Quando um barco não tem lastro e quanto maior for a carga, mais depressa pode virar. A crise da sociedade, particularmente da família, está sobretudo aqui.
– As facilidades de convivência, os meios de comunicação, a falta de sentido crítico, o isolamento, circunstâncias da vida e determinados ambientes contribuem, e muito, para que quando as pessoas não estão seguras, mudem de posição. A isto deve juntar-se a ânsia de qualidade de vida e o sentido da dignidade humana que rebentam com o que é só casca ou atavismo.
Mas, se até aqui só abordei o problema pelo lado dos mais velhos, não poderei esquecer os filhos dos pais divorciados, tantas vezes tratados como bolas de ping-pong, como simples coisas que se disputam e se jogam para um lado e para o outro.
Que dramas, que lágrimas escaldantes, que traumas não sofrem tantas crianças com a insensatez de quem os chamou à vida?!
Nascidos de uma união, eles crescem sobre a rocha desse elo. Interiorizam a imagem dos seus pais, que ao ser destruída pela separação, os leva a dizer: “Eu estou divorciado.” Uma criança não recebe o amor dos seus pais, apenas directa e individualmente, mas também de uma forma indirecta e partilhada pelo brilho do amor que os pais lhe proporcionam. “Os pais amam-se e os filhos recolhem os frutos”.
Não será fácil a uma criança ver outro homem ou outra mulher à mesa da sua casa. Hoje, dada a generalização do divórcio, parece cada vez mais normal aceitar esta prática. Mas, para além dos dramas escondidos, por detrás de uma família recomposta, normalmente, há duas destruídas. Aquele e aquela que à noite, se vê obrigado a estar sozinho, sentado ao canto da mesa, que dirá? Muito apoio lhe será necessário para ultrapassar esta crise, mais forte que o desemprego…
Entretanto, como é bonita a vida dos casados, a vida de uma família feliz?!… Para isso é preciso ver sobre que bases se constrói, que espírito a sustenta e que sonhos se vivem juntos.