XXXI – Domingo do Tempo Comum
01-11-2024Todos nós conhecemos não crentes que levam uma vida honesta e até os que consagram a sua vida ao próximo, sem qualquer referência ao Evangelho de Jesus. Também conhecemos pessoas, que vêm à igreja, e infelizmente vivem alheias aos problemas dos outros. Mais ainda: em vez de os ajudarem a serem mais felizes, só tornam mais pesada a sua cruz.
Na ausência de Deus, que caracteriza, inclusive, o dia-a-dia de muitos cristãos, a cada passo ouço quem diga aberrações como estas: “eu não preciso de ir à igreja para ser crente” ou “para ser cristão o que é preciso é fazer bem ao próximo”.
Para já não falar, destas ou de outras aberrações, que dão a entender que a fé é uma espécie de “fezada”, um mero sentimento, que pode levar às lágrimas ou andar de rastos, lembro-vos que o cristianismo não é um simples humanismo, um mero sentimento ou um impulso filantrópico.
O marxismo também foi tido como um humanismo, embora deva acrescentar-se que o mais desumanizante, que a história regista. O cristianismo não é uma realidade que, antes de tudo, se caracterize por uma dimensão horizontal mas, muito ao contrário, por uma dimensão vertical. Por outras palavras, o cristianismo é uma vida, que vem do céu, que vem de Deus e por Ele é alimentada no homem.
Como Jesus o lembra hoje, o que de novo Ele veio fazer ao mundo e à vida do homem foi vincular o amor a Deus e ao próximo, melhor, foi levar o Homem a amar o seu próximo com a exigência, a perfeição e a dimensão transcendente do amor de Deus.
Por isso, numa perspectiva cristã, não só todos os homens são ou devem ser objecto do amor fraterno, porque criaturas de Deus e chamados a ser seus filhos, mas também, e por isso mesmo, objecto do amor de Deus.
Consequentemente, para nós, cristãos, o amor ao próximo não é um simples humanismo, mas o fruto e o sinal de que Deus está em nós e por nós mostra o seu amor. Um gesto que um homem casado tem pela sua esposa não é uma simples manifestação de amizade que qualquer um de nós pode ter para com ela. A relação íntima que tem com ela dá-lhe um significado, um alcance, uma profundidade, que altera o valor do mesmo gesto.
Por isso, ao unir o mandamento do amor a Deus e ao próximo, Jesus convida-nos a ultrapassar o simples humanismo do fazer o bem. De facto, se um gesto de amor pode ou deve ser considerado como um gesto fraterno que nos identifica como irmãos é porque somos filhos. É esta condição de filhos, de que muita gente se esquece, que faz toda a diferença. E é também esta mesma condição que dá o nosso desejo de amor ao próximo uma exigência e uma qualidade que nos distingue, nomeadamente, quando nos sentimos motivados a amar e a perdoar quem nos ofendeu, como Deus assim o faz.