Solenidade da Epifania do Senhor
04-01-2025Vitae Informação – Edição 158
04-01-2025Vejo-me ainda hoje, a celebrar a festa dos reis, quando tinha 10-11 anos. Nesse dia, não se trabalhava. De manhazinha cedo, era a missa cantada. Ainda me lembro de alguns cânticos e os seus intérpretes. O Sr. abade não fazia homilia. Vinha um padre de fora para fazer o sermão. Falava dos magos como se fosse um facto histórico, que me deixava admirado com todo o seu encanto.
Cresci e vim a constatar que se trata de uma história belíssima, inspirada nas profecias de Isaías, para nos dizer que todos os povos são chamados à salvação e que esta, trazida pelo Messias, se encontra na Igreja. O mais importante da Igreja é o Tesouro que nela está escondido, mas que se revela a quem O procurar.
Agora, que sou adulto, impressiona-me a atitude do rei e dos chefes religiosos pela sua reacção de indiferença, de ateísmo prático, face ao grande acontecimento, que ocorrera no meio deles, mas do qual continuavam à margem: – a incarnação do Filho de Deus, o nascimento dAquele que era a grande promessa feita a Israel e o fio condutor da sua história.
Olho para o momento presente e verifico que, de um tempo marcado pela fé em que um individuo precisava de fugir do seu mundo para fugir da fé, hoje, a fuga é tão natural que o homem continua a fugir, sem dar conta disso. Para muita gente parece cada vez mais natural viver sem Deus, sem qualquer relação com Ele. Não há quem combata Deus e a sua existência, porque não há inquietação religiosa e não se percebe o motivo por que alguém deve preocupar-se com isso. “Credes em Deus? Não penso nisso. Preocupo-me com o desemprego, o salário mínimo, o futuro das reformas…”
De facto, para os indiferentes, o problema religioso ocupa um lugar muito modesto nas suas preocupações. Quer Deus exista ou não, não é valor que conte.
Ao ouvir tanta gente do nosso tempo, particularmente os nossos políticos, na sua frieza contabilística e no irrealismo de gente que sempre foi mimada, sou levado a crer que para eles o ideal de vida é o de um homem de negócios, de meia-idade, que depois de ter comido bem, se põe a dormir.
Quero também lembrar-vos que um pensador espanhol (Unamuno) dizia assim: “Para o enriquecimento do tesouro espiritual do género humano espero muito pouco daqueles homens ou daqueles povos que, por preguiça mental, por superficialidade, por cientismo ou seja porque seja, se afastam das grandes inquietudes do coração”.
Sabeis qual é o desafio que isto nos provoca? É a necessidade de eliminarmos o demónio mudo que aprisiona a nossa vida e nos impede que ela seja um sinal dAquele que é invisível, embora seja Luz do mundo. O que esta situação nos pede é que sejamos pessoas como os magos: – regressando a nossas casas, por outro caminho, depois de O termos encontrado, de maneira que os indiferentes, nas margens desse caminho perguntem: “Porque sois assim? Quem encontrastes?” Eu não me convenço que haja alguém que não procure a Luz!…